sexta-feira, 4 de maio de 2018

IndieLisboa'18: O Processo / The Trial (2018)

*8/10*


Será possível documentar todo o processo que levou à destituição de Dilma Rousseff do cargo de Presidente do Brasil, sem inclinações políticas evidentes? A resposta não é certa, mas Maria Augusta Ramos faz o melhor que pode no seu documentário O Processo.

Aqui o que interessa não é tanto o desfecho (a destituição da presidente), mas sim compreender de que forma se deu o dito “Golpe”. A realizadora acompanhou a equipa de defesa da ex-presidente durante meses e o resultado é um documentário que coloca a nu os meandros da judicialização da política. Um olhar observacional que revela as traições e os interesses nos bastidores do Senado e do Congresso, ao som dos gritos de protesto vindos do exterior.


Os bastidores da defesa de Dilma são-nos apresentados sem tabus, mas o outro lado, o lado que dizia "sim" ao impeachment, é-nos também mostrado com a proximidade possível, sem cortar depoimentos ou acusações. Temos todos os dados para podermos tomar partido de um dos lados, ou para analisar o caso com algum distanciamento. Não sendo totalmente isento, O Processo consegue um equilíbrio e não faz julgamentos. Esses seremos nós a fazer. 

No meio de uma maioria masculina, O Processo consegue fazer sobressair algumas grandes mulheres, tanto do lado de Dilma como contra ela. Todas mostram a força do feminismo, são mulheres de garra e convicções, e Maria Augusta Ramos, outra mulher de coragem, sabe como destacá-las.


Vemos os brasileiros na rua, em manifestações pelo "sim" e pelo "não", vemos a confusão no congresso, onde muitas vezes o inacreditável acontece, vemos a parcialidade de muitos, a lei a ser corrompida. A retórica exemplar, de um lado, contrasta com argumentação religiosa e romântica, do outro. E nós assistimos a tudo - por vezes incrédulos -, sem faltarem as cargas policiais sobre os manifestantes... E, entretanto, o Brasil espera...

O Processo passou na secção Silvestre do IndieLisboa, no dia 1 de Maio, e repete este Domingo, dia 6. No Dia do Trabalhador, com sala cheia, houve palmas e apupos, gritos de guerra e libertação, mas eu só estava lá para ver o filme. E gostei.

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