quarta-feira, 16 de maio de 2018

Crítica: Nunca Estiveste Aqui / You Were Never Really Here (2017)

"Where you spend your time? What do you do?"  
Mãe de Joe

*8/10*

Lynne Ramsay está de regresso, desta vez com um filme protagonizado por Joaquin Phoenix. Nunca Estiveste Aqui venceu os prémios de melhor argumento e melhor actor no Festival de Cannes, em 2017, e olhando para o trabalho de Ramsay, só poderia ser muito prometedor. Confirma-se.

Nunca Estiveste Aqui pode ter a violência e o ambiente de Nicolas Winding Refn, os traumas de Paul Thomas Anderson e até alguns toques de Léon, o Profissional, de Luc Besson, mas, na realidade, Lynne Ramsay assume-se como uma cineasta de personalidade e a não esquecer. Todos se lembram de Temos de Falar Sobre Kevin e suas perturbações. Ela faz filmes que não nos saem da cabeça.


Joe (Joaquin Phoenix) é um veterano traumatizado, que não teme a violência. O seu trabalho consiste em encontrar raparigas desaparecidas. Quando um dos seus trabalhos se complica e ele perde o controlo da situação, os pesadelos de Joe consomem-no, à medida que se desvenda uma conspiração que poderá leva-lo à morte.

O estilo da realizadora é cruel, com um ambiente que pode fazer lembrar um filme de terror e personagens complexas. Depois do adolescente Kevin, agora é Joe o nosso foco. Um homem adulto, cheio de traumas e de poucas palavras - tal como o filme, onde as imagens falam por si. As cicatrizes no corpo são testemunhos de um passado complicado, assim como os comportamentos suicidas e os pesadelos que não o largam. Afinal, ele exerce esta "profissão" numa espécie de acerto de contas com o passado. Joaquin Phoenix é fabuloso, sendo já habituais os seus excelentes desempenhos de personagens perturbadas. Mas o actor consegue sempre ir mais além e transfigura-se de tal forma que o realismo toma conta dele.


Os sonhos de Joe misturam-se com a realidade, os segredos espreitam em cada canto e, afinal, não se pode confiar em ninguém. A desconfiança e o zelo nunca são em demasia, e Joe parece saber disso desde o primeiro plano.

Ao mesmo tempo, a família tem uma presença importante também neste filme (apesar de o ser num contexto completamente diferente), com a mãe do protagonista em destaque. Ela traz ao de cima o que de mais humano existe em Joe. O mesmo acontece com as crianças que ele salva. E também é essa inocência das crianças que simboliza um sinal de esperança para o protagonista.


Nunca Estiveste Aqui é um filme sombrio, onde o estilo marcado de Lynne Ramsay acompanha a acção e deixa a audiência tão chocada como envolvida com a história de Joe. Os flashbacks, o trabalho de montagem, a banda sonora de sonoridades refnianas e a fotografia, essencialmente nocturna, juntam-se para criar um filme tão cruel como absorvente. 

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